7 de novembro de 2011

TPM

Já trabalhei como secretária em uma multinacional, já fui micro-empresária e tive alguns sócios. Também trabalhei em pequenas empresas e escritórios. Atuei como consultora pessoal e executiva (profissão conhecida hoje como “coach”). Fui artesã, presidente de cooperativa, voluntária em projetos sociais, colunista em jornais e revistas da região e até “Amélia”, nos períodos logo após o nascimento das minhas filhas. E tudo isso sem contar os cursos superiores que eu comecei, mas não concluí.

Quando cuidava integralmente da família e da casa, a única coisa que eu queria como “recompensa” é que minhas meninas não chorassem tanto, tivessem saúde e fossem crianças felizes (aliás, quem pensa que os pais esperam outras coisas de seus filhos está completamente enganado). Do pai delas, esperava somente que trouxesse algo gostoso para o jantar.

No trabalho fora de casa, sempre fui muito competente e responsável, mas o meu bem-estar e o das pessoas que passavam suas horas, seus dias, compartilhando um trecho de suas vidas comigo era o foco principal. Para mim, trabalhar sempre foi muito mais do que desenvolver tarefas para no final do mês receber um salário. Nunca vi sentido em violentar meus princípios para manter emprego, ter status, galgar posições a fim de alcançar sucesso profissional e financeiro.

A possibilidade de viver uma vida cada vez mais simples e mais feliz sempre foi uma aspiração enigmática para mim. Jamais compreendi as pessoas que passam a vida “atropelando” outras e juntando coisas para, um dia, deixar tudo.

Então, enquanto o ambiente estava harmônico e eu ganhava o suficiente para viver bem – de acordo com o meu conceito de viver bem, é claro – eu permanecia feliz naquela profissão. Quando sentia que a minha qualidade de vida estava diminuindo, que o clima estava ficando cinza a ponto d’eu não conseguir me alegrar com as coisas corriqueiras do dia-a-dia, eu “pulava fora” e começava tudo outra vez, num outro lugar... Sempre engatilhando uma atividade na outra, sem férias, sem intervalo, sem pausa para respirar, sem nada! O mesmo aconteceu com a faculdade e com os relacionamentos após a separação...

Acabei me fartando dessa coisa de ser multitarefa ou, no linguajar popular, “pau pra toda obra”; de nunca ter tempo SÓ para mim! Foi então que eu acabei fazendo o que muita gente tem vontade de fazer, mas não faz: parei a roda da loucura! E estou fazendo sabe o que agora? Nada! Isso mesmo: na-da! Estou “vivendo de brisa” – como diz minha mãe. Alguns chamam isso de reforma íntima, outros de período sabático. Eu chamo de TPM mesmo porque pode significar tanto Tempo Para Mim quanto Tempo Para Mudar, ou as duas coisas ao mesmo tempo.

Hoje, passo mais tempo com as minhas filhas, dedico-me a estudar e a pesquisar temas do meu interesse, busco o autoconhecimento, cuido da minha espiritualidade, revejo valores, corto excessos e exercito (ainda mais) o desapego. É desafiador e apaixonante descobrir meu próprio mundo e constatar o quanto eu sou diferente do ideal que nos é oferecido diariamente nas mídias, através da fast form – modelos de vida prontos para apenas absorvermos, sem questionar.

A idéia de viver um ano sabático como o da Liz Gilbert – escritora do livro Comer, Rezar, Amar – ao som do Eddie Vedder passou pela minha cabeça, mas depois de analisar tudo direitinho (principalmente o bolso) concluí que não irei para muito longe (não nesse momento), pois o contato que eu preciso ter com o meu interior, em busca das ferramentas que irão me proporcionar à vida simples e feliz que eu sempre sonhei, não requer longas distâncias e nem belas paisagens fora de mim; mas vou sair do circuito da cidade grande por uns dias para recarregar minhas energias junto á Mãe Natureza.

Não espero que as pessoas concordem comigo. Eu sei o quanto sair da zona de conforto e mudar é difícil. Não conto isso! No entanto, se alguém parar um minutinho, após ler esse texto, para refletir se a forma como está vivendo condiz mesmo com a sua essência, com os seus sonhos e com o plano de vida que lhe foi confiado, o meu compartilhar já terá valido a pena!

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